Sei não

Estar perto de ti me tira do eixo.
Minha verborragia ataca.
Viro pateta.
Desesperada.
Uma piada.

Estar perto de ti me desconcerta.
Me rouba o sossego.
Me enche de medo.
E eu fico sem ar.

Sem chão.
Sem não.

Sei não.

Personifiquei o absurdo
e agora ando opaca,
vestindo o desinteresse,
fingindo que ainda vivo.

Mas a verdade é que existo.
Longe de ti sobrevivo.
E nada mais.

Reflexo

Já se olhou no espelho hoje?
Já notou a nostalgia escondida nos seus olhos refletidos?

Os meus a vomitam em mim toda vez que os vejo.

Vomitam dias que ainda não vivi,
Objetivos que ainda não alcancei,
Viagens que ainda não fiz,
Homens que ainda não amei.

Vomitam sonhos, desejos, vontades.
Vomitam muito do que guardo aqui.
Vomitam para me assustar e me engolir.

E eu sigo andando,
Dividida pela metade,
Partida pela saudade
de tudo aquilo que ainda não vivi.

Po-eu-sia

A poesia mora em mim
É como se eu fosse construída em rimas e,
se me virassem do avesso,
meu corpo comporia versos inteiros.

Vício

Hoje me dei conta que já não penso mais em você todos os dias.

Não acordo mais delirante no meio da noite, como em um devaneio, sem conseguir discernir o real do onírico.

Não lembro mais de você depois de assistir a filmes excelentes ou ler livros incríveis que, com certeza, também o deixariam extasiado.

Não procuro mais seu nome no meio dos meus contatos do celular, nem das minhas mídias sociais.

Hoje a impossibilidade de nós dois não me corrói mais a alma, não liga mais a fonte infinita de lágrimas dos meus olhos.

Hoje não há mais dor, não há mais sofrimento, não há mais angústia, não há mais o ciúme horrível que me consumia vendo você preferir outros, elogiar outros, dormir com outros (ou outra).

Logo eu que não suporto o monstro de olhos verdes que zomba do próprio pasto que o alimenta.

Hoje há um imenso vazio aqui dentro, um grande pedaço pesado de nada.

E esse chiado, esse ruído na transmissão, esse farfalhar que o mundo inteiro ainda ouve.

É só o eco dos meus gritos silenciosos que reverberam ainda pelas paredes dos meus tecidos.

Mesmo que baixo, quase inaudível, mesmo que mudo.

Faz das tuas mãos coleira

Faz delas coleira minha.

Atende meu chamado,
satisfaz meus desejos,
põe fim a meu cansaço.

Contorna meu pescoço
devagar.
Domina, provoca, aperta
até eu não mais suportar.

Controla a pressão exercida,
permite minha respiração.
(ou não)
Mostra que nada do que passei foi em vão.

Atende meu chamado,
apazigua meu fogo ,
cala minha angústia com tua boca.

Não me vês emaranhada nas cordas dos teus dedos?

Tu és dono
mesmo sem querer.
És meu dono
mesmo sem saber.

Desfruta da tua posse.
Faz uso da tua propriedade.